Viver é relacionar-se. A vida é feita de relacionamentos. Quando nos relacionamos com as pessoas, com as coisas da vida, com bens materiais ou imateriais, costumamos nos apegar a eles. Ficamos apegados a um relacionamento amoroso, a filhos, a pais, a parentes e a amigos. Apegamo-nos ao patrimônio material, a imagens, a conceitos e valores, como a honra, o reconhecimento, o afeto, a gratidão, o prestígio e muito mais.
Os apegos nos levam ao sofrimento e até ao fundo do poço. Sofremos quando aquela imagem de honesto ou bonzinho que apresentamos para o mundo é maculada, quando a nossa honra ou nosso conceito ou nosso prestígio é atingido de forma negativa, quando não recebemos o amor e o afeto do jeito que queremos e, finalmente, quando não somos reconhecidos ou não temos a devida retribuição pelo bem que fizemos a outra pessoa. Os nossos apegos são múltiplos e variados.
Por que os apegos podem nos levar ao fundo do poço? Porque ele é o estágio inicial de um profundo processo de obscurecimento da consciência. Senão vejamos. O apego cresce e se desenvolve ao ponto de transformar-se num estado de "Paixão".
A paixão, de acordo com a doutrina do Bhagavad Gita, é a exacerbação do apego. O estado de paixão é de completo obscurecimento da consciência, onde não se enxerga nem se percebe nada, a não ser o avassaladora obsessão pela realização do objeto do apego. Mas este estado também não é estável. Ele evolui para o estado de Ira ou raiva.
A ira, por sua vez, gera a perda do discernimento, da consciência. Quando isso acontece, verifica-se, em consequência, o obscurecimento da nossa memória. Com a nossa memória obscurecida, o nosso intelecto se debilita e nós chegamos ao fundo do poço.
Como se vê, o apego é algo doce no seu início, mas que pode, no final, tornar-se amargo e doloroso! Precisamos gerenciar os nossos apegos de forma a não permitir que eles se transformem em paixão, porque, no estado de paixão, perdemos o controle de nossas ações e poderemos ser arrastados para a ira, e, em seguida para a perda do discernimento e, em seguida para o enfraquecimento da memória e, por fim para a debilitação da Inteligência. Isso é o fundo do poço.
O apego é, no fundo, uma manifestação da nossa ignorância. É uma criação do nosso Ego, que imagina equivocadamente poder apropriar-se dos bens da vida, esquecendo-se de que eles são insusceptíveis de apropriação, porque o Universo, em sua totalidade, é uma expressão desse Deus Amoroso, que é eternamente Uno e Senhor. "Tudo é Deus. Tudo é da Natureza de Deus. Tudo é necessário."
Quando possuímos algo com apego exacerbado, na verdade, estamos é sendo possuídos!
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