Muitas pessoas buscam renunciar ao egoísmo e entregar-se nas mãos de Deus, como forma de realizar a grande finalidade da Vida. A dificuldade para tornar concreto esse propósito é descobrir, na dinâmica da vida, o que constitui o estado de renúncia de si mesmo e de entrega à Vontade Divina.
Alguns sábios declaram que isso significa desistir da ação que proporciona frutos pessoais. Outros sustentam que significa a abrir mão dos resultados de todas as ações, quer sejam boas, más e indiferentes. Por fim, alguns eruditos sustentam que esse estado de renúncia e de entrega significa não realizar qualquer ação que possa causar dano aos outros seres.
Ao contrário do que muita gente pensa, o estado de renúncia e entrega não representa uma postura de ociosa passividade no mundo, porém um estado dinâmico de completa integração no Movimento da Vida, mediante a realização dos atos necessários e legítimos.
O Bhagavad Gita ensina que renúncia e a entrega constituem aquele estado ou condição em que as pessoas estão profundamente comprometidas com a execução de atos impessoais com vistas à prosperidade do mundo. Entre esses atos, destacam-se a caridade, os sacrifícios e as austeridades.
A verdadeira Caridade é aquela que é feita sem esperar retribuição e com o devido discernimento quanto à oportunidade, o lugar e a conveniência.
O verdadeiro Sacrifício é aquele que é feito corretamente por alguém que não deseja fruto algum como recompensa e considera sua execução como justamente necessária.
As Austeridades são de três tipos. As do Corpo, que são constituídas pela reverência a Deus, presente no Santuário do nosso próprio Coração, ao Guru ou Mestre pessoal, aos Iniciados, aos Seres Divinos e, também, pela retidão de conduta, pela limpeza, continência e por uma profunda humildade.
As Austeridades da Palavra são constituídas por uma linguagem inofensiva, a qual deve ser verídica, doce e benéfica e também pelo estudo continuado da Ciência da Síntese, contida no Bhagavad Gita. E, finalmente, as Austeridades da Mente, que são constituídas pela serenidade de pensamento, pelo contentamento, a calma, a vigilância mental e pela a pureza de intenção.
As Leis Divinas exigem, como requisito essencial, que esses atos de caridade, sacrifício e austeridades, entre os quais se incluem aqueles que correspondem aos nossos deveres como cidadão, pais, filhos, irmãos, empregados, patrões, etc, sejam executados desapaixonadamente e sem desejar o seu fruto. Sem a observância desses requisitos fundamentais, não pode ocorrer o verdadeiro estado de renúncia e entrega.
É muito importante a realização dessas ações desinteressadas, porque, do cumprimento delas, se derivam infinitas bênçãos. Os Conhecedores da Verdade ensinam que, sem a execução delas, o curso da nossa vida no processo do mundo, nunca será totalmente cumprido.
Isso é assim porque vivemos em um mundo da ação, onde os seres humanos evoluem mediante a execução de atos. A realização das ações, portanto, nunca pode ser abandonada inteiramente, visto que elas fazem parte integrante da engrenagem que movimenta o processo de transformação do mundo.
Se alguém, impulsionado pelo egoísmo, decidir que não vai realizar mais qualquer tipo de ação, essa deliberação não se cumprirá, porque as energias da evolução, que estão presentes no seu próprio corpo, o impelirão a agir.
A única coisa que pode e deve ser feita, por constituir um importante meio de purificação da alma, é a renúncia aos resultados das ações. Estes devem ser oferecidos a Deus, que é o verdadeiro Ator Universal.
Essa dedicação dos frutos das ações a Deus constitui um meio seguro de liberação dos apegos que escravizam o homem na corrente dos desejos intermináveis.
Aquele que renuncia aos frutos das ações consegue paz. Quem não renuncia aos frutos da ação pelo desejo permanece ligado, tornando-se prisioneiro das paixões, que escravizam e fazem sofrer.(Continua na próxima postagem)