domingo, 19 de abril de 2015

As Causas das Ações


        
No Bhagavad Gita, Arjuna, o discípulo, pergunta ao Senhor Krishna, o seu Amado Mestre: “Senhor, o que impulsiona irresistivelmente uma pessoa a pecar  ou a realizar atos meritórios, mesmo sem desejar?”(Gita VI, 1).
Na Bíblia, o Apóstolo Paulo, através de uma de suas Cartas,fez idêntico questionamento, mais ou menos nestes termos: Senhor, por que não consigo fazer o bem que quero e, outras vezes, sou obrigado a fazer o mal que não quero?
Como o Bhagavad Gita é o Livro que apresenta  uma exposição completa sobre o Conhecimento Sintético e sobre as Leis  de funcionamento do Universo,  vamos examinar, embora sucintamente,  algumas das Leis que regem o processo da ação.
Lei geral da obrigatoriedade da ação. “Se estás obcecado pelo egoísmo e decides não agir, as trigunas nascidas da Prakriti, te impelirão a agir e, assim, tua resolução não se cumprirá(GitaXXI,22).
  Com efeito, quando alguém, ignorando as Leis que regem o funcionamento da Vida, decide não realizar mais qualquer tipo de ato, essa decisão não se cumprirá, porque as  Energias  da Evolução, presentes nos  seus corpos físico e sutis, atuando como agentes da Lei do Karma,  o  impelirão a agir.
Lei da obrigatoriedade da ação necessária.  “Em verdade, a omissão dos atos  necessários nunca  é aprovada(XIX,14).
De igual forma, as  Energias do Universo, atuando como executoras da Vontade Divina,também nos obrigam a realizar aqueles atos específicos  que o Divino em nossos corações   considera  necessários para nossa evolução (Gita XIX,23).
Lei da obrigatoriedade das ações difíceis ou que exigem esforço físico. “A não realização das ações devido as suas dificuldades ou por temor ao esforço físico também não é aprovada...”(Gita XIX,15).
Quando não realizamos uma determinada ação porque achamos difícil a sua execução ou porque ela exige esforço físico, estamos violando um artigo da Lei Universal que rege o funcionamento da Vida.
 A totalidade dos artigos dessa Lei Divina  foi disponibilizada para os seres humanos no Bhagavad Gita,  na edição completa desse Livro,  composta de 26 capítulos, e editada pela Suddha Dharma Mandalam.
Como se vê, a realização das ações é uma necessidade imperiosa do processo da  Vida. Nunca se pode   abandonar a realização dos atos (Gita XIX,18).
Com efeito, se, no processo da ação, também somos, algumas vezes, obrigados a fazer o mal que não queremos e, outras vezes,  não conseguimos fazer o bem que desejamos, é porque a realização das ações não é algo tão simples quanto  parece.
 Na verdade, a execução dos atos constitui um processo complexo, que possui conexões profundas e  sutis com o funcionamento global do Universo. Esse processo transcende  os estreitos  limites do nosso Ser Individual.
No Bhagavad Gita, o Senhor Krishna, respondendo a uma pergunta de Arjuna sobre as causas da ação, esclarece que o ato humano, na verdade, é  um processo  complexo,  constituído de cinco causas que, somadas,  constituem a Causa Total ou Divina.
1ª Causa
O Espírito Santo  Universal (Atma). É a Causa Espiritual, a principal causa de todas as ações humanas.
 Na verdade, Deus é Ator Universal, que age através de suas criaturas.  A Sua Santa   Presença  é que sustenta e dá   Vida a todos os Seres.  É Ele  a Inteligência e a Consciência  por trás de  todos as Mentes e Intelectos.
É quem percebe através de todos os Sentidos  e sente através de todas as Emoções.  É Quem vê através de todos os olhos e  escuta através de todos os ouvidos. Ele é a Grande Vida que, embora Una e Indivisível, atua como se fosse múltipla e separada.
2ª Causa - O Corpo Físico (e os sutis).
 Essa é a Causa Material e a base através da qual se realizam as ações. Nos minúsculos e sutis átomos desses corpos,  estão armazenadas as energias que contêm a  programação do Karma individual, onde se encontram presentes alguns comandos energéticos que influenciam poderosamente as nossas ações na vida presente. Aí é onde estão guardadas as sementes de todas as nossas emoções, cargas e condicionamentos.
3ª Causa – O Aspirante através do Desejo ou Vontade.
O Desejo é uma das Energias Divinas responsáveis pelo funcionamento dos seres humanos no processo do mundo. Sri Yanardana ensina que “Karta, o atuante, se equipara ao Desejo ou Vontade (Iccha), tendo em vista o fato de que todo Ser Individual é primeiramente uma Energia Desejo, ou, se assim, o preferir, um Desejo Ativo.”
4ª Causa - Conhecimento (Gnana).
 A exemplo do Desejo, o Conhecimento é uma das três Energias Divinas responsáveis pelo funcionamento dos seres humanos. É um elemento fundamental na realização de qualquer ação. Sem o necessário conhecimento nenhum ato  pode ser realizado perfeitamente.
5ª Causa – Ação ou Atividade (Krya)
Ação ou Atividade é também uma Energia Divina responsável pelo funcionamento dos seres humanos.
Dessas cinco causas das ações humanas, o Espirito Santo  Universal (Atma) representa o Aspecto Espiritual. O Corpo (físico e sutis) representam o Aspecto  Material. Já o  Aspecto da Energia está representado, no processo da ação humana, pela Stri-Shakti, a Energia feminina  do Conhecimento, do Desejo e da Ação.
Na verdade, Deus é o Ator Universal que, através dos seus dois corpos, o Espiritual (Atma) e o Material (Prakriti), e da Sua Divina   Energia, a Brahma-Shakti sob a forma de Stri shakti,(Gnana-Shakti ou Energia do Conhecimento, Iccha-Shakti ou Energia do Desejo e Krya-Shakti ou Energia da Ação), realiza todas as ações. Os seres criados, na verdade, são os corpos materiais de Deus.
A Ciência que estuda as transformações do Mundo, o Bhagavad Gita, ensina que   estas são as cinco causa origem de toda ação no processo do mundo (Gita VI, 2) e, também, que  “qualquer ação física, mental, emocional ou intelectual que uma pessoa execute inclui estas cinco causas(Gita VI, 4).
Como se vê, o funcionamento da Vida tem uma base sintética. Como almas individuais, na verdade, somos meros agentes da Ação Universal. Se não existe nada separado no Universo, o que é uma verdade, também não há ator individual. O Universo age através de cada um de nós.
O nosso papel, portanto, é facilitar a ação da Grande Vida, procurando compreender o papel relativo que temos no processo de realização de cada ato. A grande verdade é que  “Nada faço, nem sou causa de que nada se faça”.